Nova tendência mantém carroceria do jeito que os ratos gostam, como neste exemplar de 1933
Nem mesmo o sol das belíssimas praias de Los Angeles bastava para animar a mocidade nos anos 30. Os jovens queriam a adrelina de correr sobre os lagos secos da Califórnia com seus Fordinhos preparados. Assim nasciam os hot rods, movimento que ganhou força nos anos 50, quando os americanos voltaram da guerra com larga experiência em mecânica. Eram tempos de câmbios sem sincronizador e motores do tipo flathead.
Pintura intacta? Jamais! O lance era deixar os carros com carroceria envelhecida e enferrujada, até porque não havia mão de obra qualificada para fazer uma pintura nova. Daí o termo rat look (visual de rato), referência a um rato verde, conhecido como Rat Phink, que se tornou marca registrada dos hot rodders. O estilo de customização dos “enferrujados” é tendência nos Estados Unidos e começa a ganhar adeptos no Brasil. Esse modelo das fotos é um deles, desenvolvido pelo customizador Donizete Costalonga, de Santo André (SP).
A antiga picape Ford 1933 serviu de base para o rat em um projeto que durou quase dois anos para ser concebido, e não lembra em nada o modelo original. Nas mãos de Costalonga, para-lamas e capô foram para o espaço, assim como a caçamba original. “Tirei as medidas, peguei alguns exemplos e esculpi toda a peça à mão”, lembra. O teto também foi cortado e rebaixado, tornando o visual do carro mais macabro. Uma boa lixa tirou toda a tinta da carroceria, deixando a lata exposta ao tempo e acelerando o processo de envelhecimento, colocando a ferrugem em cena. Para manter a oxidação em dia, a lavagem é feita com diesel.
Chassi e suspensões foram trabalhados para que a carroceria descesse alguns andares e ficasse mais próxima do chão. Costalonga também se preocupou com os mínimos detalhes do carro chamado de Vegas. “É uma homenagem a Las Vegas, cidade que busco referências todos os anos durante o Sema Show”, conta. Ele se refere ao maior evento de carros customizados do mundo, realizado anualmente nos Estados Unidos.
Os registros da cidade dos cassinos estão por toda a carroceria. O para-sol dianteiro foi feito de lata e ganhou cinco naipes de espadas. O painel tem um jogo da velha riscado à mão, além de cartas de baralho aplicadas nas laterais das portas. Na traseira, um tanque de combustível, que nasceu a partir de duas frigideiras de alumínio, também ganhou a grafia de um baralho. O nome do “rato” vai colado na tampa da caçamba. Placa do Brasil? Que nada, o Vegas ainda usa identificação vinda do paraíso dos jogos de azar, mas os documentos estão sendo providenciados, segundo o preparador.
Se por fora o carro surpreende, o interior dá um banho de sensações novas. A abertura da porta é rústica, pois não há borrachas para amenizar o impacto. Vidro? Só na frente, e do tipo basculante. O volante é um banjo de época, que custou cerca de R$ 2 mil ao customizador. Os instrumentos são de um Ford 1939 e ficam bem no centro do painel, ao lado das luzes identificadas com palavras escritas à mão. O câmbio é um show à parte, talvez a coisa mais cativante do rat rod: a alavanca beira o teto de tão alta e tem um lobo mau com dentes aparentes.
“A ideia era fazer um hot rod autêntico dos anos 50, com preparação daquele tempo”, explica Costalonga. Para isso, o carro traz um 3.6 V8 do tipo flathead. A grande diferença em relação a um motor moderno é o fato desse propulsor ter as válvulas no bloco, e não no cabeçote. O resultado é um ronco muito parecido com o de uma Harley-Davidson, ainda mais acentuado pelo escape que é direto, com três saídas de cada lado. O V8 ainda ganhou dupla carburação Edelbrock e novo sistema de admissão. Uma ignição eletrônica MSD completa o pacote de modificações e faz a potência do motor beirar 130 cv, uma marca respeitável para um motor dos anos 50.
Acessar o rat não é tarefa fácil, exige certo contorcionismo. O espaço é restrito, assim como a visibilidade – comprometida por conta do teto baixo. Mas, acredite se quiser, do alto do meu 1,85 m, não cheguei nem perto de raspar a cabeça no teto. Dou a partida e o motor ronca forte na minha cara. Culpa do vidro basculante aberto. E o melhor de tudo é que eu nem ligo, pois a empolgação toma conta do momento! O pé começa a coçar e a vontade de acelerar é inevitável.
Crio coragem e encaro o lobo mau. Dou um “tapa” na cabeça dele para mostrar quem manda e a primeira está engatada lá no teto. Enfim, o rato sai do lugar. Guiá-lo é uma experiência tão única quanto tocar um Audi R8 ou um Porsche 911. Óbvio que não é pelo conforto e muito menos pela potência, mas pelos fatores excentricidade e curiosidade. Não há nada igual à sensação de guiar um modelo vintage. A suspensão de época é extremamente dura e passa todos os impactos para os ocupantes. E o câmbio sem sincronizador? É uma briga a cada troca de marcha, só entra na base da porrada. Para levar a melhor nos lagos da Califórnia nos anos 30, era preciso ter braço.
fonte: revistaautoesporte.globo.com
Barca louca !!! sem palavras
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