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28 de dez. de 2010

☠ CABEÇAS ENCOLHIAS - por Victor Rodder ☠ ((parte 2/2))


A essas alturas, final dos anos 50, Hot Rods e Kustons já dominavam as garagens dos adolescentes e as cabeças encolhidas, vendidas como brinquedos para assustar os mais ingênuos, passam a ser acessório indispensável nos retrovisores mais “quentes”.


Replica de cabeça encolhida num hot dos EUA.

A VERDADE POR TRAZ DO MITO
Mas a verdadeira história das cabeças encolhidas ou “shrunken heads” é muito mais antiga! E após ler essa matéria vai ficar fácil compreender o motivo pelo qual elas causam e causaram tanto espanto, admiração e medo naqueles que tinham a “in”felicidade de topar com uma shrunken genuína.


Mais uma do calendário 2010 do Frakies – prova de que as shrunkes mais uma vez estão em alta!
Sim... porque elas de fato existem! Muita gente ainda fica boquiaberta quando eu conto que esse processo de “encolhimento” das cabeças é real e não uma lenda! Acreditem! É real (ou pelo menos foi)!!!

 
As cabeças encolhidas eram e são até hoje uma espécie de amuleto dos povos indígenas da América Central e norte da América do Sul, sendo o mais famoso e reconhecido como encolhedores de cabeça, o povo Jivaro. Essa população indígena passou a ser objeto de estudos de alguns historiadores lá pelos anos 20, já que nessa época ainda eram aborígines. Viviam nas encostas orientais da cordilheira dos Andes Peruanos, no sudeste do Equador e ao norte do rio de Marandon, estavam divididos basicamente em 5 sub-grupos diferentes (Jivaro propriamente dito, Antipa, Achual, Huambiza e Aguaruna), se inter-relacionam e viviam da caça, coleta de frutos e tinham rudimentos de agricultura tropical na floresta.

Lembrem: isso lá pelos idos de 1800 e lá vai bolinha. Mas ainda hoje as tribos Jivaro são extremamente hostis e não gostam nada de contato com a civilização. E por estarem incrustradas no meio de uma extensa área de floresta tropical, divididas numa espécie de feudalismo rudimentar e não fazerem a mínima questão de contato externo, os governos Andinos até hoje praticamente às ignoram.

Mas fato é que os Jivaros eram povos guerreiros, com uma cultura que envolvia sacrifícios sangrentos, deuses do bem e do mal, costumes bem estranhos e com certeza muita hostilidade. Hoje muitas das suas tradições estão extintas. Algumas inclusive por força de leis e repressão do governo como explicarei adiante. Fazem parte de um passado distante (pero no mutcho), dentre elas a de encolher cabeças e comer os restos mortais de seus inimigos no café da manhã. Suas armas ainda hoje incluem além dos tradicionais arcos, flechas e lanças, as famosas zarabatanas - aquele “canudão” da onde saem dardos envenenados.

Acostumados ao combate e chegados numa boa briga, não era raro que alguém acabasse morto. Uma das coisas curiosas que se conseguiu descobrir sobre os Jivaros é que muitas vezes quando alguém tinha algum “problema” pra resolver com um desafeto, essa pessoa (99.9% das vezes homens) procurava seu respectivo feiticeiro, e num ritual que envolve ingestão de ervas alucinógenas e uma “bad trip” no meio da floresta, buscava orientação espiritual e nem é preciso dizer como tudo acabava.... 

Quando isso acontecia, quando alguém era mandado “dessa pra melhor”, segundo a tradição Jivaro, o assassino deve passar por uma cerimônia de purificação, elaborada para proteger a si e sua família de serem assombrados pelo espírito do seu inimigo. Nessa cerimônia o guerreiro vencedor recebe em seu corpo a pintura de esqueleto e é temporariamente expulso da tribo. Nesse período de tempo em que é mantido ausente, enquanto estaria se “purificando”, a cabeça de sua vítima passa por seu próprio ritual, para enfim transformar-se em uma “cabeça encolhida."

ENCOLHENDO AS CABEÇAS

Primeiramente os anciões da tribo, os feiticeiros, cortam a cabeça fora do corpo. Com instrumentos feitos de pedra, algumas incisões bastam para que o crânio seja removido da pele da face pela garganta (segundo os relatos obtidos, é impressionante a precisão quase cirúrgica com que isso era feito). Depois, ainda com os cabelos presos ao couro cabeludo, tudo é mergulhado diversas vezes em água fervente, juntamente com algumas ervas, dentre as quais está o misterioso "huito", guardado como um segredo pelos Jivaros e que os próprios antropólogos modernos não sabem dizer o que é...  alguns dizem ser o extrato vegetal do yanamuco, que daria a coloração preta à pele e a protegeria da ação do tempo. Mas vamos em frente...

Passada a etapa de ferver e secar a pele da cabeça, o que acontece várias vezes, o crânio é colocado ainda úmido entre rochas quentes (aquecidas pelo fogo) e seu interior é preenchido com a areia quente, substituída diversas vezes. Isso faz com que todas as camadas eventualmente ainda existentes de carne e gordura sumam definitivamente tanto da pele como do crânio.


Algumas peças da coleção pessoal de Victor Rodder expostas no jardim da casa – “assusta mais que muito cachorro”!!!


Ao final deste processo, pele e crânio são colocados sobre o alto de uma lança estacada no chão para secar durante a noite e a essa altura, a cabeça encolheu tanto que pode chegar quase ao tamanho de uma pequena maçã. As orelhas são removidas, a boca e as pálpebras costuradas e a cabeça encolhida é remoldada. A pele é ajustada ao crânio, preenchida com algodão, palha ou similar e a garganta é fortemente costurada.

Os Jivaros acreditam que com as extremidades costuradas (pálpebras, boca e garganta) o espírito da vítima é prendido dentro da cabeça encolhida, e é incapaz de escapar para assombrar o guerreiro ou sua família. Finalmente esta grotesca cabeça encolhida recebe o nome de “Tsantsa”, ou “Chancha” passando a ser considerada um troféu de guerra. O guerreiro exilado então é recebido pela Tribo e sendo considerado purificado, recebe dos sacerdotes a cabeça encolhida (Tsantsa).

Por isso, imagine você o que significava encontrar um índio Jivaro no meio da floresta com o pescoço forrado de pequenas cabecinhas. Era terror na certa!
 

Lógico que com a divulgação dessa tradição nada usual, que rapidamente ganhou as manchetes européias do mundo civilizado, as cabeças encolhidas se tornaram objeto de desejo de antropólogos, historiadores, caçadores e todo o tipo de louco desvairado que você possa imaginar. Isso transformou as poucas cabeças encolhidas que se conseguia tirar das tribos em objetos extremamente valiosos. Rapidamente um tráfico de cabeças encolhidas passou a existir e foi tão grande o frenesi criado que as autoridades equatorianas tiveram que tipificar como crime a posse de cabeças encolhidas e proibir definitivamente as práticas rituais Jivaro no final da década de 40.

Sabe-se inclusive, que em algumas cidades do interior daquela região equatoriana, devido à óbvia dificuldade de se conseguir uma cabeça encolhida, e o altíssimo valor de mercado destas peças, algumas pessoas passaram a literalmente “fabricar” suas próprias cabeças. Turistas, andarilhos e ébrios habituais começaram a “desaparecer” das ruas.
            As shrunken heads causavam e causam até hoje um espanto tão grande em seus observadores, estão espalhadas pelo mundo em museus como o “Belive or Not” do famoso Ripley ou no museu de Antropologia de St. Gallen, na Suíça, que comprou recentemente para sua coleção seis cabeças encolhidas pela bagatela de 80 mil pilas. As cabeças, que teriam entre 200 e 250 anos, tinham sido levadas da Amazônia por um taxidermista (especialista em empalhamento de animais) que viveu na região por alguns anos.


Robert Ripley na década de 50 segurando uma autêntica Shrunken Head!

Detalhe: Uma das cabeças hoje expostas em St. Gallen tem cabelos e barba loira, ou seja, aparentemente é de um homem branco! Como diria o Edu, amigo meu carioca, baixista da Big Trep: Siniiiiiiiiiiixxxxxtrô!!! heheh

Um comentário:

  1. Muito legal a matéria!!! bem esclarecedora...
    Ágora tem que sair uma falando dos Shriners...

    Valeu pelas preciosas informações!!

    Abs

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