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27 de jul. de 2011

☠ BARBEARIA 9 DE JULHO ☠

 Cabeleireiros não. De tesoura e navalha em punho, os sócios Tiago Cecco e Anderson Napoles exaltam que têm uma “profissão old school e sem afetação”. Mas a vaidade dos dois tem o tamanho de seus topetes rockabilly. Fixados com goma, os cabelos bem penteados da dupla resistiriam impecáveis à passagem de um furacão pela Galeria Ouro Velho, onde há quatro anos foi inaugurada a primeira Barbearia 9 de Julho.
No melhor estilo anos 1950, o pequeno “salão para cavalheiros” da Rua Augusta é cheio de referências trazidas de viagens pelos sócios, que decoraram sozinhos o espaço. Estão lá as clássicas cadeiras de barbeiro, feitas de couro e ferro cromado, o piso quadriculado em preto e branco, o caixa manual, os posteres de Elvis Presley. E, claro, imagens de pinups lançando sorrisos sensuais – o que confirma a convicção dos sócios: um homem pode ser bem cuidado sem que vire metrossexual. “Atendemos advogados, motoboys, moderninhos e gays”, diz Tiago, de 30 anos. “Nossa clientela não tem um perfil específico, nem precisa gostar dos cortes que a gente usa.”
Segundo os donos, muita gente vai lá dar um trato no visual antes de uma entrevista de emprego ou de um encontro romântico. Fazer a barba inclui pano quente com essência de eucalipto para abrir os poros, espuma de barbear importada, navalha bem afiada e loção à base de rum. “É sucesso garantido”, diz Anderson, de 32 anos. A barbearia, que cobra R$ 50 por barba e cabelo, não atende com hora marcada. Aos sábados, dia mais movimentado, a fila chega a dez clientes. Alguns levam recortes de revistas para mostrar como querem o corte, outros são levados pelas namoradas. “É impressionante como o papo acaba quando entra uma mulher”, diz Tiago sobre a presença feminina num ambiente carregado de testosterona.

“Notamos que não havia mais um barbeiro de confiança,
um lugar para falar sobre futebol e dar risada”

A ideia deu tão certo que os sócios abriram uma filial no Centro. No próximo dia 9 de julho, inauguram outra unidade, no Itaim. Até o final do ano, pretendem atender os executivos da região da Berrini. Ninguém poderia imaginar um sucesso assim em um ramo quase extinto. “Notamos que não havia mais um barbeiro de confiança, um lugar para falar sobre futebol e dar risada”, diz Anderson, que foi funcionário de Tiago por três anos antes de lhe sugerir sociedade. Nenhum dos dois paulistanos entrou nessa porque era investidor. Tiago era fã de carros antigos desde moleque. Com o tempo, descobriu as músicas e o universo da década de 1950. Aos 23, abandonou a gráfica em que trabalhava para ser assistente de barbeiro no Bom Retiro. Varreu muito cabelo do chão até aprender a cortá-los e apostar no próprio salão.


Ex-cabeleireiro da rede Soho e amante do rockabilly, Anderson trabalhou em uma barbearia na Inglaterra e se apaixonou pelo ofício. Quase desistiu do ramo antes de conhecer a empreitada de Tiago: achava que não teria público para isso no Brasil. Entre o som da maquininha de raspar o cabelo e o rock vindo do aparelho de som, nasceu a amizade que transformaria o diminuto salão em um negócio promissor. “Conseguimos unir nossa profissão à cena vintage que adoramos”, diz Anderson. “Essa moda retrô pode até passar, mas a gente vai continuar firme.”

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